Histórias do Magistério

Luta constante… Verso e reverso

Casei cedo. Com uma filha pequena. Muitas vontades de vencer e de tornar-me independente. Um concurso público. Uma escola de madres. De repente, a separação, em outubro, assinatura da separação judicial, em novembro, demitida. Fiquei sem chão. Como iria conseguir pagar as minhas contas?

Ex-marido brincando com a pensão da filha. Juiz estipula e ele deposita um salário mínimo para não ser preso. Qual adjetivo caberia para essa pessoa que se dizia pai? A primeira pensão, o cheque voltou porque a assinatura fora falsificada.

Tomada de consciência de que não poderia contar com ninguém. Só comigo mesma e com os meus estudos, com a minha bagagem intelectual e com a minha experiência.Fui à luta!

Elaborei meu currículo com todos os cursos das quais já havia participado. O que me pareceu muito bom. Não conhecia ninguém nas escolas privadas. O salário do magistério público não era suficiente, precisava complementá-lo nas escolas privadas e as religiosas remuneravam melhor. Não arredei o pé. Confiava em mim. Sentia-me convicta de que iria impressionar, distribuí para as grandes escolas do Rio de Janeiro. A demissão pesava-me. Tinha sido demitida, porque me separei? Essa era a resposta evidente.

Imediatamente, em uma escola laica, fui aceita. Lembro-me do professor que me entrevistou: simpático, cabelos grisalhos, fez a análise do meu currículo e disse que eu já estava praticamente contratada. Sai feliz. Agradecida. Poderia enveredar-me para escolas mais famosas, o salário não compensava, mas tinha resgatado minha estima, já que afinal meu estado civil não fora empecilho. 

Puro engano…

Uma escola que eu também pretendia, surpreendeu-me com um questionário para eu responder e ser admitida em que que até da minha vida sexual, os coordenadores queriam saber. O currículo estava em segundo plano, os preconceitos em primeiro. Era uma escola importantíssima. Excelente salário. Neguei-me a preencher aquilo e fui pra casa, arrasada.

Minha luta continuava e pensava, será que todas são assim? A sombra da separação estava em todos os cantos. A garra, a vontade de vencer. Não me esmorecia…

Para minha surpresa, um telefonema me aguardava em casa. Era de uma outra escola que pelo seu padrão tradicional já sabia que não seria aceita, pois conhecia a tradição daquele estabelecimento de não matricular nem filhas de pais separados. Era o que todos diziam.

Pensei em desistir, não queria ouvir desculpas que disfarçassem os preconceitos.

Esperaria um outro concurso público. Daria aulas particulares.

Cheguei lá. Prédio maravilhoso. Jardins incríveis. Fiquei meio encantada com o lugar. Temi em ser rejeitada. Encontrei a coordenadora me aguardando. Conversamos. Pediu que eu fizesse uma pergunta para ela. O questionamento não poderia ser outro: vocês aceitam profissional separada?

Trabalhei lá durante 30 anos. Entendi que o preconceito encontra-se em todos os cantos. Em frente! Aprendi a ser grata e a lutar sempre.