O eco das falas de Francisco

Depois da emoção de viver a perda do papa Francisco, fiquei com vontade de escrever um pouco sobre a palavra. 

Creio que o papa tentou veementemente trazer com suas palavras uma espécie de elixir para as  relações  se tornarem saudáveis e amorosas.

Afinal, vivemos a barbárie. Guerras. Poderes tirânicos. Narrativas fakes. Relações tóxicas. A palavra perdeu o valor de compromisso. Não só valia o escrito, mas aquilo que se falava. Diz-se uma coisa, faz- se outra.

Alguém acredita no que o outro diz? Tantos aforismos na internet e todos reclamam “quantas bobagens”. Continuam disputando, dizendo ódio.

Até o dizer “as palavras têm poder” perdeu sua força. Estamos aprisionados em clichês , ouvindo frases padrão pronunciadas por pais, amigos e professores, introduzindo hábitos nefastos e difíceis para se bem viver.

Quem não viveu falsas palavras, enganos, mentiras, deboches, falas preconceituosas, distorções no que se diz. Eu vivi. Muitas. Talvez todas. Entretanto, a sala de aula, o contato com os alunos, os textos simples que escrevi e escrevo me cicatrizam. Mas quem sou eu? Que somos nós? Para falarmos de nós mesmos.

E, num piscar de olhos,  chega ele, humilde, de branco, idoso e revolucionário. 

E a sua grande revolução está além de determinadas crenças, sua inovação está no fato de dizer que a mágica da vida está baseada na palavra que proferimos. Não aquela que aponta para guerras e divisões. Mas a que une, que aproxima e como ele sempre dizia: constrói pontes. 

Talvez fosse um anjo, um pouco de Jesus. Um muito do amor que se precisa em todo o tipo de relação.

Ele se foi. Deixou sua última palavra em um domingo de Páscoa. Falou sempre com integridade, com honestidade, com liberdade. Com o sonho de que a palavra amorosa pode mudar tudo.