Ainda somos como nossas avós…

Uma redação do Enem em 2023 teve como tema “Desafios para a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Em 2015, oito anos antes, a mulher já tinha sido discutida pelo mesmo concurso, com a temática “A violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Violentada, cuidadora, violentada, cuidadora… ora, as dissertações servem de, certa forma, para alertar aos jovens sobre as questões femininas que o país vive. Mídia discute, Enems discutem, mas tudo continua a mesma coisa. Por que será? 

Sou da geração sei lá que letra, todos sabem que atualmente classificam as gerações em X, Y ou Z. Sei lá. Só sei que realmente a minha geração lutou pela independência da mulher. Lutamos pela nossa liberdade para trabalharmos. Para não nos submetermos ao poder masculino. Fomos as tais guerreiras. Desde meninas, queríamos a liberdade, víamos nossas mães e avós reprimidas, apanhando, trabalhando em casa, nos educando, educando, por incrível que pareça, para o casamento. Ah, um detalhe importante, podíamos ser professoras, pois o horário de meio turno, nos beneficiava. Cuidava-se da família, do marido e também cuidava-se do trabalho.

E de repente, nesse turbilhão, as revistas e jornais propunham com mulheres nuas

apresentando a tal da pílula anticoncepcional. A partir daí, estávamos realmente livres. O corpo era nosso. Decidíamos as gravidezes, vibrávamos com tudo aquilo. Nada poderia nos conter. Queríamos trabalho, independência, marido, filhos, também tudo. Queríamos escolher. Éramos capazes de tudo. Tudo poderia ser nosso. Luta total e acho que muita coisa foi absolutamente conquistada. Ouviamos Mulheres de Atenas, Cotidiano do Chico, amávamos ser Cor de Rosa Choque da Rita Lee, prontas pra começar de novo e sonhávamos.

Os homens continuavam como no século XIX, tinham as suas amantes desde a juventude sentiam orgulho, em mantê-las, passear com elas diante das esposas que caíram no conto desse homem maravilhoso, do príncipe encantado…Porém não queríamos mais nos submeter a tantas humilhações (o meu foi assim) e orgulhosamente chegamos à separação. sem medo, enfrentando sociedade, julgamento de todos e a expectativa da frase fatídica “Agora quero ver como vai se virar”.

Olhávamos as coisas à nossa volta e sentimos o grande peso da liberdade e responsabilidade. Que loucura a liberdade. Muita liberdade, as que mantiveram a proposta do casamento, assumimos tudo .Enfrentamos olhares enviesados, comentários que estávamos destruindo a família, entretanto, nada nos intimidava.

Até, no momento da separação, não queríamos pensão para nós. Só para os filhos, nós iríamos lutar e alcançar todos os sonhos de uma mulher totalmente resolvida.

Lutamos intensamente. Guerreiras exaustas. O homem continua impassível: Deixa o almoço pronto. Ah, o jantar também! Vai lá. Vem cá. Quem fica com as crianças? A liberdade chegou ao esgotamento.

Será que é por esse motivo que as mulheres voltaram a submeter-se. Temem ficar sozinhas, precisam estar perfeitas esteticamente. Será amor? Assusto-me com a quantidade de feminicídio em qualquer instância social.

Será que voltaram a querer somente o status de uma união, mesmo que seja totalmente instável?

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