De onde vem a vontade de ler e de escrever?

Há muitas teorias pedagógicas e psicológicas sobre a vontade de ler e de escrever que pais e responsáveis se sentem cobrados por não fazerem isso ou aquilo que lhes é ensinado por tantos teóricos.

É evidente e incontestável que os estudos são de extrema importância para quem educa, quer seja especialista ou não. Entretanto, o relato da minha vida de leitora, e por que não dizer de escritora, nasceu da mais pura e ingênua experiência com jornais e revistas.

Sou filha de um jornaleiro imigrante que abarrotava a nossa casa de jornais e diferentes revistas: revista de fofocas, revistas como Manchete, Cruzeiro, revista de decoração, revista de moda, revistas em quadrinhos, como Luluzinha, Bolinha, Mônica . E as tais revistas de fotonovelas… isso também existia.

Eu, inicialmente, sem saber ler, garota curiosa, manuseava, folheava, recortava aquilo tudo . À noite, minha mãe reunia as três filhas no quarto para ler as histórias em quadrinhos. Ela lia e eu depois queria “reler” todas elas.

A curiosidade pela leitura tomou conta de mim depois que a minha irmã – quatro anos mais velha do que eu – passou a ler. Ela se sentia poderosa, ela lia Ltda e não me dizia como se fazia a combinação dessas letras. Depois de tanto aborrecê-la com as minhas infinitas perguntas,  me alfabetizou. Sem método, do jeito que ela criou – me alfabetizou. Deixo aqui uma homenagem a ela que partiu e me deixou esse bem que é a leitura. Essa mesma homenagem fiz a ela na introdução da minha tese de mestrado, mas não foi dada tanta importância. Neste momento de perda, o valor é outro.

As revistas sempre foram para mim objeto de curiosidade e de sensibilização. No carnaval, reproduzia as fantasias dos grandes mestres carnavalescos. Sabia tudo de política e futebol,  sem entender nada. Jango, Getúlio, Fluminense passavam pelas minhas mãos. Ouvia os comentários da minha mãe, as alegrias do meu pai e fui me compondo leitora.

A escola da época não se detinha nisso. Os livros infantis eram poucos, mas eu curtia os almanaques da banca de jornal. A Biblioteca só fui quando a minha irmã, no ginásio, foi à Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, fazer uma pesquisa. Fiquei fascinada.

O cheiro de livros, a quantidade de livros, de andares de estantes cheias, o silêncio das pessoas  lendo, a cara séria da bibliotecária procurando em fichinhas amareladas a localização dos livros, era sensacional .

O fascínio ficou. Dei aula, coordenei, dirigi CIEPs, escrevi didáticos, fui para universidade. Trabalhei nelas e a leitura e a escrita sempre do meu lado. Escapei de depressão, lendo. Sofri e compreendi a minha separação, lendo. O livro foi mais do que um amigo, foi um verdadeiro psicólogo. Chegou um momento que a literatura mexia tanto comigo que até sentia medo dela.

E agora,  digo com toda a convicção que as teorias são importantíssimas, mas para quem quiser  estar com livros, fique com eles, livros, e-books, internet, jornais, pedaços de jornais, folhas escritas jogadas por aí. O contato, a experiência podem ativar o leitor e o escritor que há em todos nós. É só deixar fluir.

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